segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Poeta poetinha....

Eu já dei risada até a barriga doer, já nadei até
perder o fôlego, já chorei até dormir e acordei com
o rosto desfigurado.
Já fiz cosquinha na minha irmã só pra ela parar de
chorar, já me queimei brincando com vela.
Eu já fiz bola de chiclete e melequei todo o rosto,
já conversei com o espelho, e até já brinquei de ser
bruxo.
Já quis ser astronauta, violonista, mágico, caçador e
trapezista.
Já me escondi atrás da cortina e esqueci os pés pra
fora, já passei trote por telefone, já tomei banho de
chuva e acabei me viciando.
Já roubei beijo, Já fiz confissões antes de dormir
num quarto escuro pro melhor amigo.
Já confundi sentimentos, Peguei atalho errado e
continuo andando pelo desconhecido.
Já raspei o fundo da panela de arroz carreteiro, já
me cortei fazendo a barba apressado, já chorei
ouvindo música no ônibus.
Já tentei esquecer algumas pessoas, mas descobri
que essas são as mais difíceis de se esquecer.
Já subi escondido no telhado pra tentar pegar
estrelas, já subi em árvore pra roubar fruta, já caí
da escada de bunda.
Conheci a morte de perto e agora anseio por viver
cada dia.
Já fiz juras eternas, já escrevi no muro da escola,
já chorei sentado no chão do banheiro, já fugi de
casa pra sempre... e voltei no outro instante.
Já saí pra caminhar sem rumo, sem nada na cabeça,
ouvindo estrelas.
Já corri pra não deixar alguém chorando.
Já fiquei sozinho no meio de mil pessoas sentindo
falta de uma só.
Já vi pôr-do-sol cor-de-rosa e laranjado, já me
joguei na piscina sem vontade de voltar.
Já bebi uísque até sentir dormentes os meus lábios,
já olhei a cidade de cima e mesmo assim não encontrei
meu lugar.
Já senti medo do escuro, já tremi de nervoso, já
quase morri de amor, mas renasci novamente por
ver o sorriso de alguém especial.
Já acordei no meio da noite e fiquei com medo de
levantar.
Já apostei em correr descalço na rua, já gritei de
felicidade, já roubei rosas num enorme jardim.
Já me apaixonei e achei que era para sempre, mas
sempre era um "para sempre" pela metade.
Já deitei na grama de madrugada e vi a Lua virar Sol.
Já chorei por ver amigos partindo, mas descobri que
logo chegam novos, e a vida é mesmo um ir e vir sem
razão.
Foram tantas coisas feitas, momentos fotografados
pelas lentes da emoção guardados num baú, chamado
coração.
E agora um formulário me interroga, me encosta na
parede e grita:
" - Qual sua experiência?"

"Respondo, simplesmente, que vivi."

"A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida."

Vinícius de Moraes